Guerra europeia contra não-cristãos e heréticos, sancionada pelo papa. Em sentido restrito, as cruzadas foram um conjunto de guerras levadas a cabo pelos reinos europeus para estabelecer o domínio cristão na Palestina, entre 1096 e 1291. Motivadas por fervor religioso, desejo de obter terras e ambições comerciais das maiores cidades italianas, as cruzadas tiveram vários objectivos e efeitos. Começaram para garantir a segurança dos peregrinos que visitavam o Santo Sepulcro alargando-se posteriormente à maior parte do Médio Oriente, ao Egipto e Constantinopla.
Na Palestina, o domínio moderado dos muçulmanos permitiu a existência de um protectorado cristão em Jerusalém, estabelecido por Carlos Magno. No entanto, esta coexistência pacífica acabou em 1010, quando o califa Hakim destruiu o santuário cristão. Depois de 1071, os sarracenos foram expulsos pelos turcos Seldjúcidas e as peregrinações cristãs tornaram-se bastante perigosas. Em 1095, o papa Urbano II pediu a protecção dos peregrinos aos cavaleiros europeus, iniciando-se assim as primeiras expedições. Ainda nesse ano, algumas hostes indisciplinadas, tal como a de Pedro, o Eremita, partiram para o Oriente, mas pereceram no caminho. Em 1096-1097 organizou-se uma nova expedição, comandada por Godofredo de Bulhão, Bohemundo de Otranto entre outros, que partiu a caminho da Ásia Menor, tomando Antioquia em 1098 e Jerusalém em 1099. Aí estabeleceram um reino cristão liderado por Godofredo enquanto o seu irmão Balduíno foi nomeado conde de Edessa (Alta Mesopotâmia) e Bohemundo governante de Antioquia. Durante o meio século seguinte, apesar dos reforços que incluíam frotas de Génova, da Noruega e de Veneza, os cristãos que se encontravam na Síria foram muito pressionados. Formaram-se, então, as ordens dos Hospitalários e dos Templários para apoiar a defesa de Jerusalém. Edessa perdeu-se em 1144, e a segunda Cruzada, liderada por Luís VII de França e Conrado III da Alemanha (1146-1148), acabou desastrosamente, desencorajando outras iniciativas do género.
O espírito de Cruzada foi retomado no final do século XII devido às conquistas de Saladino, sultão do Egipto, que depois de capturar Damasco em 1174 e Alepo em 1183, avançou pela Galileia, derrotou um exército cristão nos Cornos de Hattin e tomou Jerusalém em Outubro de 1187. Os cristãos organizaram então várias expedições, das quais a mais importante foi a comandada, em 1189, por Filipe da França,
Frederico da Alemanha e Ricardo I de Inglaterra. Os alemães avançaram pela Ásia Menor, perdendo o seu imperador no caminho, enquanto os franceses e ingleses foram por mar até Acre. Ricardo distinguiu-se na captura da cidade, mas desentendeu-se com os seus aliados, que o deixaram só para continuar a guerra. Depois de um ano de feitos brilhantes mas inúteis, concluiu uma trégua com Saladino e regressou à Europa. Em 1202, outra Cruzada, que partiu de Veneza, envolveu-se em intrigas venezianas e bizantinas e, em vez de chegar a Jerusalém, ajudou o deposto Isaac Angelus a retomar o trono grego. Alguns meses depois, Constantinopla foi atacada e saqueada pelos cruzados estabelecendo-se aí um império latino, sob
Balduíno da Flandres, em 1204. A mais trágica destas expedições terá sido a Cruzada das crianças em 1212, quando alguns milhares de crianças foram enviados em Cruzada, tendo muitas morrido no caminho desde a França e a Alemanha até à costa italiana. As restantes embarcaram, mas à chegada a Alexandria foram capturadas e vendidas como escravos. André da Hungria comandou uma cruzada falhada em
1217-1221 contra os muçulmanos no Egipto. Frederico II levou a cabo uma Cruzada com mais sucesso em 1228, conseguindo reconquistar Jerusalém e o sul da Palestina por diplomacia, a qual manteve-se em mãos cristãs até 1244. A Cruzada de Luís IX da França (São Luís) em 1249 foi orientada contra o Egipto, mas Luís foi capturado juntamente com a maior parte do seu exército sendo obrigado a pagar 800 000 peças de ouro de resgate. Apesar desta derrota, encabeçou outra Cruzada em 1270 vindo a falecer em Cartago. Alguns meses depois, o príncipe Eduardo de Inglaterra, depois Eduardo I, comandou os seus seguidores até Acre embora sem resultados.
No século XIV foram organizadas várias cruzadas contra os turcos otomanos, com o intuito de travar o rápido avanço turco que se aproximava das fronteiras orientais da Europa. Vários papas continuaram a pregar a necessidade de uma guerra santa contra os infiéis, mas em vão. Quando Constantinopla foi capturada por Mohamed II em 1453, Pio II não conseguiu organizar uma Cruzada para a sua recuperação.
Apesar do fim dos Templários, os Hospitalários, em Rodes e depois em Malta, continuaram a ser uma muralha contra o avanço turco no Mediterrâneo.
Embora as cruzadas não tenham conseguido atingir os objectivos que se propunham acabaram por, indirectamente, beneficiar a Europa de várias maneiras. O comércio entre a Europa e a Ásia Menor aumentou consideravelmente e a Europa conheceu novos produtos, em especial, o açúcar e o algodão. Os
contactos culturais que se estabeleceram entre a Europa e o Oriente tiveram um efeito estimulante no conhecimento ocidental e, até certo ponto, prepararam o caminho para o Renascimento.
Na Península Ibérica desde 1100 que a Igreja, através da Bula de Pascoal II, apoiou a reconquista aos mouros como serviço de Cruzada, o que permitia gozar de certas indulgências e privilégios. A primeira Bula de Cruzada concedida a Portugal data do reinado de D. Sancho I, tendo sido renovada posteriormente por outros papas. Muitas cidades do reino português e do resto da península foram tomadas com o apoio de cruzados estrangeiros que aportavam ao nosso país a caminho, ou em regresso, da Terra Santa. A Bula de Cruzada permaneceu ainda associada aos Descobrimentos portugueses, nomeadamente nas lutas para a conquista das praças do norte de África.
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